As melodias e acordes que embalam as aventuras dos heróis dos games romperam o confinamento dos quartos de crianças e adolescentes para brilhar nos palcos, em concertos com ares eruditos. O maior evento mundial a promover esse novo gênero musical, o Video Games Live (VGL), começou nesta sexta-feira (08) em São Paulo e chega ao Canecão, no Rio de Janeiro, no domingo.

Mais de um milhão de pessoas já participaram do projeto em todo o mundo. Entre as atrações, há duas competições. Uma de Guitar Hero - no qual o melhor guitarrista vai ter a honra de subir ao palco para um número com 43 músicos da Orquestra Sinfônica Villa-Lobos, sob a regência do maestro Emmanuel Fratianni; outra de Cosplay, onda importada do Japão na qual as pessoas se fantasiam de personagens de games, filmes e desenhos animados.

A edição deste ano do VGL traz ao Brasil grandes autores de música para jogos, como Gerard K. Marino, compositor da trilha do sucesso de vendas God of War, do PlayStation. Gerard também carrega no currículo músicas para a série de TV Supernatural e para trailers de filmes como Hellboy II, Piratas do Caribe 3: No Fim do Mundo e Superman: O Retorno.

O compositor de 42 anos, que na juventude trabalhou como DJ em boates de striptease para bancar a faculdade, transformou-se num pai que não deixa a filha gastar muito tempo com videogames. Em meio à passagem de som para a apresentação em São Paulo, ele declarou a uma entrevista.

Quando você entrou nessa carreira, imaginava que um dia veria suas músicas sendo executadas por orquestras mundo a fora?
Na verdade, sim. Não era uma meta inicial. Mas, sim. O que eu não imaginava era que seria através dos videogames. Não podia imaginar isso. Eu tinha uma banda de rock no ginásio. Na faculdade, fui DJ para pagar a faculdade. Lá, estudei música, direcionado para orquestra, com a ideia de fazer músicas para filmes e um dia ver as pessoas comprando ingressos para ouvi-las em concertos de orquestra pelo mundo afora. Mas não poderia imaginar que isso aconteceria tão rápido, nem que seria através dos videogames.

Fazer música para games é diferente de compor para cinema e TV? É diferente. Filme tem outro ritmo. As coisas acontecem exatamente quando deveriam acontecer, e a música dá suporte emocional ao drama. Nos videogames, o jogador controla as ações. Nesse caso, a música muda quando o jogador atinge um determinado ponto. O desafio de fazer isso acontecer é pegar os elementos que fazem aquelas conexões emocionais, separá-los e colocá-los de uma forma que, ao pular de um para outro, eles se conectem rapidamente. Eu não conhecia muito desse tipo de música até começar a trabalhar nesse ramo. Mas tem alguns caras melódicos, mais jovens, que começaram na mesma época que eu, de que gosto muito.

Músicas de videogame são feitas para apoiar e dar clima a cenas do jogo. Elas funcionam bem no palco?
Não todas, porque são composições muito fragmentadas. Mas há aberturas de filme, ou créditos de abertura de um game, com trechos grandes de música que funcionam independentemente da ação do jogo. E é esse tipo de música que trago para tocar aqui.

Você tem filhos? Como age com eles em relação aos videogames?
Sim. Tenho dois filhos. Uma menina de 4 anos e um menino de 1 ano. A mais velha, na idade dela, definitivamente, tem outras coisas a fazer além de ficar jogando. Mas, sim. Ela joga. Com moderação.
fonte:veja.com/editado:joey frango