Eu ainda me lembro bem do primeiro Assassin's Creed. Lançado nos tempos mais remotos da nova geração, este foi um título que tinha tanto de inovador, como de falhas em termos de polimento. A verdade é que acabei por adorar este jogo e nunca consegui perceber a falta de interesse de muitos.
Com Assassin's Creed 2 as coisas mudaram de figura, tendo sido criado um jogo muito mais massivo e polido, embora também, com inúmeras falhas e decisões de design duvidosas.
A verdade é que desta vez, os jogadores estiveram dispostos a perdoar grande parte dos problemas e acolheram a saga de braços abertos.
Assim nasceu Assassins Creed Brotherhood, a continuação da história de Ezio Auditore Da Firenze, que utilizou muito do que foi feito em Assassin's Creed 2, assim como o motor de jogo, modelos de personagens e muito mais.
Apesar de ser um jogo altamente recomendados aos fãs da saga, no meu caso, Assassins Creed Brotherhood acabou por me afastar da série, devido ao sentido de Dejá-Vu e desgaste que me fez sentir.
Agora com Assassin's Creed Revelations o mesmo motor de jogo regressa para um quarto episódio, com uma reciclagem das mesmas físicas, jogabilidade e ambiente. Será que o último capítulo da história de Ezio traz algo de novo? Ou é apenas mais do mesmo?
Assassin's Creed Revelations é o último capítulo da história de Ezio Auditore e conta a sua demanda para tentar descobrir uma série de chaves escondidas por Altair, o seu antepassado, e assim abrir as portas do Grande Templo, que esconde algo demasiado valioso para cair nas mãos dos templários.
Do outro lado da barricada está Desmond Milles, o descendente directo destas personagens que no presente, se vê aprisionado dentro do Animus. Entre a vida e a morte, este terá de descobrir forma de voltar a acordar e fugir da prisão mental em que se encontra.
Assassin's Creed sempre teve uma boa história carregada de conspiração, mas desta vez, em Assassin's Creed Revelations, a Ubisoft conseguiu criar a melhor história de todas, não apoiada apenas no segredo que divide os Assassinos e os Templários, mas sim, através da exposição das personagens que já conhecemos, e que neste episódio se mostram mais humanas que nunca.
Existe muito mais diálogo e este está muito mais bem escrito que no passado, com direito a bons resultados e à criação de uma história bastante satisfatória, que embora não amarre todas as pontas soltas, dá uma maior amplitude sobre tudo o que se passa, seja com os heróis ou os inimigos, seja as suas motivações, objectivos ou sentimentos.
Está confirmado que a história ainda se aguenta bem e consegue ser melhor que no passado, mas será que o mesmo sucede com a jogabilidade? A resposta neste aspecto é mista.
Em termos de jogabilidade entre as personagens não existem grandes diferenças entre Ezio e Altair, sendo que parece mais que estão a jogar com Skins diferentes cada vez que trocam de era temporal. É verdade que o estilo dos dois é idêntico, mas podiam ter feito um ligeiro esforço para os diferenciar ligeiramente além da face.
Se pensarmos na jogabilidade típica de Assassin's Creed, ou seja, escalar paredes e muros e realizar perseguições em telhados, então podem contar com um esquema de jogabilidade em tudo semelhante e com apenas meia dúzia de adições, como é o caso da Hook Blade, uma nova arma que permite a Ezio deslizar por cordas,
segurar-se em rebordos dos telhados e até mesmo utilizar os inimigos como "trampolim". Embora seja uma boa adição, não é algo que mude brutalmente a jogabilidade, assim como todas as peças de armadura e fatos que podem comprar (além das alterações lógicas da vida e resistência).
Em termos de combate, Assassin's Creed Revelations também não mudou muito e utiliza o mesmo estilo fácil e directo do passado. Apesar de alguns inimigos agora utilizarem estratégias variadas que anulam os nossos contra-ataques, é certo que este sistema continua a não ter grande profundidade, sendo mais espectacular a termos visuais do que desafiante, ou seja, na maior parte dos casos, continuam a sair do combate ilesos, usando apenas contra-ataques.
Algo que adiciona mais alguma variedade a Assassin's Creed Revelations é o processo de criação de bombas que permite que façam várias dezenas de combinações diferentes que resultam em variações distintas consoante o alvo que querem abater. Os ingredientes podem ser comprados ou obtidos de diversas formas ao longo da aventura, por isso, assim que aprenderem a trabalhar com esta ferramenta, vão estar a criar todo o tipo de bombas em menos de nada.
De regresso está o sistema de irmandade do anterior, no qual vão poder recrutar novos Assassinos que podem enviar em missões para outras zonas do mundo. O sistema continua simples como no passado, e conseguem muito bem terminar o jogo sem lhe dar grande uso, mas ajuda certamente a aumentar o lucro obtido ao longo da aventura, o que leva a comprar novos negócios e outros equipamentos.
Uma das grandes adições de Assassin's Creed Revelations acaba por ser uma das suas mais fracas, falo claro do modo Den Defense. Como o nome pode dar a perceber, este é um modo ao estilo Tower Defense em que compram unidades e colocam ao longo de uma linha por onde passam os inimigos. Podem criar barreiras, comprar soldados e dar ordens assim como atacar com a vossa pistola ou ordenar tiros de canhão.
Certo é que embora não esteja de todo mal pensado ou executado, o modo Den Defense acaba por não trazer nada ao jogo e além de ser algo confuso a início, é lento a desenvolver e parece algo fora de contexto.
Por fim, existe o mundo de Desmond, ou seja, preso no Animus, o descendente do presente pode explorar as entranhas do Animus em busca de pistas. Este desafio surge ao estilo de um jogo de exploração na primeira pessoa a lembrar uma mistura entre Portal e Mirror's Edge, no qual constroem passagens com recurso a plataformas e tentam progredir pelo cenário.
Este é mais um extra de Assassin's Creed Revelations que podia ser ignorado quase por completo, mas verdade é que comparado com o modo Den Defense, este acaba por ser bem mais interessante.
Estreado em Assassin's Creed Brotherhood e agora de regresso neste jogo está o modo Multiplayer.
É de louvar ver que foram feitas algumas alterações neste modo. Desta vez podem contar com uma história que acompanha a vossa progressão pelos níveis de jogador e ainda com mais habilidades que vão desbloqueando para dar alguma vantagem à vossa personagem.
Foram incluídos alguns modos de jogo novos, como o Artifact Assault que obriga os jogadores a sair da toca e correr pelos cenários de forma a proteger ou apanhar o artefacto.
Infelizmente o modo online continua a não ser uma experiência de primeira que o faça ser escolhido em detrimento de outros jogos online, sendo ainda bastante mecânico em termos das personagens e jogabilidade, assim como na diferença abissal que se cria entre o novato e o veterano.
É verdade que Assassin's Creed Revelations continua a usar o mesmo motor gráfico praticamente desde sempre e apesar de alguns pormenores terem sido melhorados, como as faces das personagens que já não parecem batatas inchadas e as casas que não parecem cópias descaradas das do jogo anterior (estou a falar de ti Brotherhood), não há dúvida que o motor gráfico já começa a mostrar muito o peso da idade.
Não estou a ignorar de forma alguma que este é um mundo aberto com imenso detalhe aplicado, mas isso não é impeditivo de todo para que o motor não tenha sido mais trabalhado e desenvolvido. Basta pensar no caso de Batman Arkham City,
que embora não seja tão vasto, é um mundo aberto com um visual soberbo.
De qualquer forma, não há como negar que a Ubisoft Montreal é exímia a recriar ambientes urbanos cheios de vida e a fervilhar de actividade. Mesmo que grande parte dos habitantes do mesmo sejam cópias uns dos outros e muitos dos edifícios sejam bastante parecidos. Entre estes dois pontos baixos, o último escapa bem, pois a arquitectura da época não deveria fugir em muito a este modelo.
Resta então o som, um dos grandes pontos positivos da série, que continua em alta em Assassin's Creed Revelations, com uma qualidade bastante boa, e composições memoráveis. Os sotaques estranhos estão de volta, com misturas entre o inglês e outros sotaques mediterrânicos. Se estiverem dispostos a fechar os olhos a este pormenor,
vão certamente ser da opinião que o trabalho vocal de Revelations é o mais forte e bem trabalhado de todos, não caindo no ridículo e proporcionando bons momentos de tensão e até de comédia.
Mesmo que a jogabilidade continue a sofrer de falhas que nos matam sem termos qualquer culpa, um sistema de missões repetitivas, um conjunto de adições fracas e um visual vários furos abaixo do que pode ser visto na nova geração, muitos dos seus defeitos vão acabar por ser uma virtude para os jogadores mais dedicados.
Assassin's Creed Revelations não consegue ser nada de novo, diferente ou revolucionário, mas também é notório que não era esse o seu objectivo desde o início.
Este foi um jogo feito a pensar nos fãs e na sua vontade de ver a história de Ezio chegar ao fim, e para esses, este é um jogo a não perder.
Créditos: mygames.pt